CONFIDÊNCIA
Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com a suavidade
de uma confidência
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça
Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno
Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci
Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos
No húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suamente
pronunciares o meu nome
Mia Couto
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sexta-feira, 9 de outubro de 2009
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5 comentários:
5 estrelas....
bonito poema.... vais musicar? ou é surpresa... bj
Andavas desaparecido e quando voltas surpreendes-nos com um poema lindíssimo.
Bj.
Ok, o comentário anterior era meu, mas como não foi no meu computador, saíu com o nome errado, lol!!!
Bj Vanessa
Miguel tu dizes confidência e eu digo: Coincidência e Obrigada :)
Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos
Lindo, mt bonito tenho pcs palavras!
É estranho conhecer a letra de uma musica tua sem antes ouvir a melodia, a tua voz e sentir como se completam.
Obrigada, outra vez.
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